A alta demanda por produtos com ingredientes naturais impulsiona o mercado no Brasil e no mundo. Especialista explica quais os fatores devem ser analisados na hora de escolher o seu
Conforme apontado pela Future Market Insights (FMI), as vendas globais de cosméticos naturais devem ultrapassar US$ 54 bilhões em 2027. Especialista em segurança cosmética, Maria Inês Harris explica que os principais ativos naturais usados nos produtos de beleza e higiene pessoal são óleos essenciais e extratos vegetais.
“Essas matérias-primas de origem vegetal podem oferecer uma percepção de maior segurança, saúde e preservação do meio ambiente para o consumidor, no entanto, ainda há diversos contaminantes nessas matérias-primas que precisam ser avaliados durante o desenvolvimento do produto”, alerta.
De acordo com Harris, há diversas formas de extrair substâncias de um determinado vegetal para que sejam usadas em formulações, e a utilização de solventes é uma delas. Tanto os fornecedores de matérias-primas quanto os fabricantes devem verificar se os solventes usados são apropriados para garantir a qualidade do extrato. Além disso, deve-se verificar também se os níveis dos solventes residuais estão em níveis adequados para o consumo humano.
E tem mais! As micotoxinas (ou toxinas fúngicas) são metabólitos secundários produzidos por fungos que podem estar presentes nas matérias-primas vegetais utilizadas na produção de alimentos, produtos de higiene pessoal e cosméticos. O ataque por fungos pode ocorrer ainda nas plantações, durante a colheita, armazenamento, processamento da planta e até mesmo no momento de armazenamento do extrato ou do óleo vegetal finalizado. Vale lembrar que a presença de pesticidas e metais pesados são exemplos de fatores que precisam ser prioritários nos processos de formulação e segurança cosmética.
“Os cosméticos naturais podem parecer mais seguros no primeiro momento, mas na verdade as etapas na avaliação de segurança das matérias-primas utilizadas neles devem ser tão rigorosas quanto de matérias-primas sintéticas. Ou seja, no final das contas, quem vai garantir se a matéria-prima é própria para uso é o profissional de Avaliação de Segurança, e não apenas a origem do material”, assegura Harris.
Público infantil
Em janeiro de 2019, a Agência Nacional de Segurança Sanitária da Alimentação, do Meio Ambiente e do Trabalho, da França, publicou um relatório preocupante que indicou a presença de substâncias tóxicas em fraldas em níveis acima dos permitidos. De acordo com matéria no jornal Le Monde, foram localizados mais de 60 elementos tóxicos nas matérias-primas utilizadas, dentre eles pesticidas e contaminantes químicos, que agem como desreguladores hormonais e resíduos que causam distúrbios no sistema reprodutivo e no desenvolvimento.
“Infelizmente, o caso que está ocorrendo na França deve servir de exemplo a todos nós. Trata-se de um caso grave de utilização de matérias-primas de péssima qualidade (dentre elas o algodão contaminado) e que provavelmente não foram submetidas às análises necessárias. Todos os produtos de beleza e higiene pessoal, como fraldas e absorventes íntimos, devem passar por uma extensa avaliação de segurança, ainda mais por ficarem em constante contato com a pele e mucosas, facilitando contaminações”, afirma a especialista.
Então lembre-se: produtos intitulados “naturais” podem dar ao consumidor desavisado uma impressão de segurança maior, porém isso só é realidade se o produto passou por séria avaliação de sua formulação e riscos associados, sem contaminações perigosas nas matérias-primas.
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