Neste resumo mensal, o especialista Marcos Fava Neves discute como está o cenário para o setor agro e os principais aspectos para observar em janeiro
A pandemia reconfigurou o cenário global de estímulos econômicos. De acordo com levantamento do Bank of America, foram injetados pelos governos, por meio de políticas fiscais e monetárias, US$ 25 trilhões, representando 29% do PIB mundial.
No Brasil a recuperação segue em marcha. No 3º trimestre de 2020, o PIB cresceu 7,7% frente ao trimestre anterior, segundo o IBGE. No entanto, quando comparado ao mesmo trimestre de 2019, o PIB caiu 3,9%. O setor que mais contribuiu para o crescimento foi a indústria, crescendo 14,8%, enquanto que serviços teve incremento de 6,3% e agropecuária retração de 0,5%.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) da FGV também voltou a crescer em dezembro de 2020, com alta de 1,8 ponto. Com isso, atingiu 116,1 pontos, maior valor desde maio de 2010. O impulsionamento vem, principalmente, do setor de bens intermediários, com aceleração da demanda e estoques ainda baixos.
Agro em alta
Provavelmente, ainda teremos um 1º trimestre ainda fortemente impactados pela pandemia, até que as vacinas comecem a mostrar resultados e a elevada contaminação seja contida. Mas as expectativas para o agronegócio no Brasil são boas.
Pelo último relatório do USDA, a produção global de soja deve atingir 362,05 milhões de toneladas na safra 2020/21, deixando estoques menores ao redor de 85,6 milhões de toneladas.
A produção brasileira da oleaginosa, por sua vez, está estimada em 133 milhões, a norte-americana em 113,5 milhões e a argentina em 50 milhões. Já no milho, a produção global foi ajustada para 1,14 bilhão de toneladas, com estoques de 291,43 milhões. O Brasil deve produzir 110 milhões, os EUA 368,5 milhões e a Argentina 49 milhões. Preços em franca recuperação, acima dos US$ 13/bushel para a soja e quase US$ 5/bushel para o milho. Se ficarem por aí, 2021 seria excelente.
Cenário de exportações
O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) está estimado em R$ 885,8 bilhões para 2020, 15,1% maior que o de 2019. Já o preço das lavouras deve crescer 19,2%, enquanto que o da pecuária, 7,3%. O número preliminar do VBP para 2021 está em R$ 1,025 trilhão, segundo o MAPA.
De acordo com a Anec, a previsão de exportações de soja para 2020 é de 82,3 milhões de toneladas, equivalente a um crescimento de 13,4% frente ao ano anterior. Já a Abiec estima que as exportações de carne bovina devem somar 2,14 milhões de toneladas em 2021 – alta de 6% frente ao valor esperado para 2020, projetado em 2,02 milhões de toneladas. Em termos de faturamento, o valor deve ser de US$ 8,79 bilhões (+3%) nesse ano que se iniciou, com preço médio de US$ 4.104 por tonelada (-10%).
A França anunciou um pacote de medidas para reduzir a dependência de importação de soja, com subsídios na ordem de 100 milhões de euros. Assim, o setor agro francês deve aumentar o cultivo dos grãos em 400 mil hectares até 2023. As exportações brasileiras para França estão na ordem de 1,3 milhão de toneladas (farelo + grão) atualmente e representam 2% do volume total. Mais protecionismo pela frente.
Em iniciativa conjunta entre Abrapa, Anea e Apex, foi lançado o Projeto Cotton Brazil, para posicionar o país como maior exportador de algodão até 2030, com relativa ênfase no mercado asiático, o qual corresponde por 80% das exportações brasileiras.
A Abrapa está com escritório de representação em Singapura para aumentar a presença física, além de uma plataforma online, cottonbrazil.com, evidenciando a rastreabilidade e sustentabilidade do produto nacional.
Enquanto isso…
O Senado aprovou, em 15 de dezembro, um projeto de lei que facilita e disciplina a aquisição, posse e arrendamento de propriedades rurais no Brasil por pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras. Agora o projeto segue para aprovação na Câmara dos Deputados. Muita polêmica ainda pela frente.
Por sua vez, a Câmara aprovou, no mesmo mês, a criação do Fundo de Investimentos do Setor Agropecuário (FIAgro). Se trata de uma alternativa para o financiamento agro com juros mais baixos, por meio da comercialização de cotas do setor, seguindo os modelos dos Fundos Imobiliários. O projeto deve ser votado pelo Senado no começo de 2021.
E deixo meus parabéns a todos que fizeram o governo de São Paulo recuar sobre o aumento de carga tributária. Que esta ideia seja arquivada em definitivo! Ele e o governo Federal não foram eleitos para aumentarem impostos e sim promoverem ampla reforma da administração para buscar eficiência, corte de gastos e melhoria de serviços com todas as chances dadas pela digitalização e avanço do home-office.
5 fatos para ficar de olho em janeiro
Previsões do clima para a safra 2020/21 de grãos é, de longe, a principal variável no agro, não apenas no Brasil, mas para o mundo observar.
O comportamento importador dos principais mercados asiáticos, como virão as compras chinesas e de outros países em carnes, grãos e demais produtos.
Os movimentos no Senado e na Câmara para as eleições das casas e a governabilidade visando às grandes reformas no Brasil.
Impactos do final do auxílio emergencial no consumo de alimentos e nas compras pelo mercado interno, refreando a inflação de alimentos. Devem acontecer um pouco nas carnes, principalmente.
O avanço da proposta de maior liberação de compras de terras por estrangeiros.
Marcos Fava Neves Engenheiro Agrônomo Professor da FEARP/USP e EAESP/FGV favaneves@gmail.com www.favaneves.org
Boas condições podem fazer de 2021 o ano de Tratoraço no Agro
Neste resumo mensal, o especialista Marcos Fava Neves discute como está o cenário para o setor agro e os principais aspectos para observar em janeiro
A pandemia reconfigurou o cenário global de estímulos econômicos. De acordo com levantamento do Bank of America, foram injetados pelos governos, por meio de políticas fiscais e monetárias, US$ 25 trilhões, representando 29% do PIB mundial.
No Brasil a recuperação segue em marcha. No 3º trimestre de 2020, o PIB cresceu 7,7% frente ao trimestre anterior, segundo o IBGE. No entanto, quando comparado ao mesmo trimestre de 2019, o PIB caiu 3,9%. O setor que mais contribuiu para o crescimento foi a indústria, crescendo 14,8%, enquanto que serviços teve incremento de 6,3% e agropecuária retração de 0,5%.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) da FGV também voltou a crescer em dezembro de 2020, com alta de 1,8 ponto. Com isso, atingiu 116,1 pontos, maior valor desde maio de 2010. O impulsionamento vem, principalmente, do setor de bens intermediários, com aceleração da demanda e estoques ainda baixos.
Agro em alta
Provavelmente, ainda teremos um 1º trimestre ainda fortemente impactados pela pandemia, até que as vacinas comecem a mostrar resultados e a elevada contaminação seja contida. Mas as expectativas para o agronegócio no Brasil são boas.
Pelo último relatório do USDA, a produção global de soja deve atingir 362,05 milhões de toneladas na safra 2020/21, deixando estoques menores ao redor de 85,6 milhões de toneladas.
A produção brasileira da oleaginosa, por sua vez, está estimada em 133 milhões, a norte-americana em 113,5 milhões e a argentina em 50 milhões. Já no milho, a produção global foi ajustada para 1,14 bilhão de toneladas, com estoques de 291,43 milhões. O Brasil deve produzir 110 milhões, os EUA 368,5 milhões e a Argentina 49 milhões. Preços em franca recuperação, acima dos US$ 13/bushel para a soja e quase US$ 5/bushel para o milho. Se ficarem por aí, 2021 seria excelente.
Cenário de exportações
O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) está estimado em R$ 885,8 bilhões para 2020, 15,1% maior que o de 2019. Já o preço das lavouras deve crescer 19,2%, enquanto que o da pecuária, 7,3%. O número preliminar do VBP para 2021 está em R$ 1,025 trilhão, segundo o MAPA.
De acordo com a Anec, a previsão de exportações de soja para 2020 é de 82,3 milhões de toneladas, equivalente a um crescimento de 13,4% frente ao ano anterior. Já a Abiec estima que as exportações de carne bovina devem somar 2,14 milhões de toneladas em 2021 – alta de 6% frente ao valor esperado para 2020, projetado em 2,02 milhões de toneladas. Em termos de faturamento, o valor deve ser de US$ 8,79 bilhões (+3%) nesse ano que se iniciou, com preço médio de US$ 4.104 por tonelada (-10%).
A França anunciou um pacote de medidas para reduzir a dependência de importação de soja, com subsídios na ordem de 100 milhões de euros. Assim, o setor agro francês deve aumentar o cultivo dos grãos em 400 mil hectares até 2023. As exportações brasileiras para França estão na ordem de 1,3 milhão de toneladas (farelo + grão) atualmente e representam 2% do volume total. Mais protecionismo pela frente.
Em iniciativa conjunta entre Abrapa, Anea e Apex, foi lançado o Projeto Cotton Brazil, para posicionar o país como maior exportador de algodão até 2030, com relativa ênfase no mercado asiático, o qual corresponde por 80% das exportações brasileiras.
A Abrapa está com escritório de representação em Singapura para aumentar a presença física, além de uma plataforma online, cottonbrazil.com, evidenciando a rastreabilidade e sustentabilidade do produto nacional.
Enquanto isso…
O Senado aprovou, em 15 de dezembro, um projeto de lei que facilita e disciplina a aquisição, posse e arrendamento de propriedades rurais no Brasil por pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras. Agora o projeto segue para aprovação na Câmara dos Deputados. Muita polêmica ainda pela frente.
Por sua vez, a Câmara aprovou, no mesmo mês, a criação do Fundo de Investimentos do Setor Agropecuário (FIAgro). Se trata de uma alternativa para o financiamento agro com juros mais baixos, por meio da comercialização de cotas do setor, seguindo os modelos dos Fundos Imobiliários. O projeto deve ser votado pelo Senado no começo de 2021.
E deixo meus parabéns a todos que fizeram o governo de São Paulo recuar sobre o aumento de carga tributária. Que esta ideia seja arquivada em definitivo! Ele e o governo Federal não foram eleitos para aumentarem impostos e sim promoverem ampla reforma da administração para buscar eficiência, corte de gastos e melhoria de serviços com todas as chances dadas pela digitalização e avanço do home-office.
5 fatos para ficar de olho em janeiro
Marcos Fava Neves
Engenheiro Agrônomo
Professor da FEARP/USP e EAESP/FGV
favaneves@gmail.com
www.favaneves.org
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